terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

DO BLOG DA PSICANALISTA MARIA OTÍLIA BENTO HOLZ

A UNIVERSIDADE E SUAS VICISSITUDES


A disciplina “O Ensino Superior no Brasil” trouxe uma visão ampla e crítica do que tem sido a trajetória das universidades, desde seus primórdios até os dias atuais.
Através de uma breve citação, pode-se dizer que o surgimento das Universidades do mundo se deu através da preocupação com a Educação. O homem deveria adaptar-se ao meio e vice-versa. No século X, começaram a surgir no fundo das Igrejas, estudos sobre como trabalhar o homem e sua formação. Na idade Média, a conservação e transmissão do conhecimento teórico, deveriam ser confiadas a uma instituição denominada “Studium Generale”. Instituição compreendida como uma cooperação autônoma de professores e estudantes, que conseguiu unificar a chamada cultura ocidental durante três séculos. Foram nessas instituições que pensadores esquematizaram suas doutrinas. No século XII a Universidade teve seu real aparecimento como Instituição. Apresenta-se com características que lhe confere uma posição inconfundível na Sociedade, como órgão de Expressão e Comunicação de uma Cultura na qual a Sociedade inteira se reconhece pelos seus ideais e valores. A sociedade medieval conseguiu atingir seu apogeu no século XVI. O Espírito do Renascimento e da Reforma tiveram suas influências. O Empirismo (Bacon) na Inglaterra, afirmando que tudo parte da prática e o racionalismo (Descartes) “Se o homem pensa, logo existe”, são duas grandes correntes que deram origem ao pensamento contemporâneo. A Universidade passou a ser a porta através da qual se produz conhecimento com base em pesquisa. Lugar de ensino do saber universal. Fator de ascensão social. Deve, ainda, aspirar um processo de educação permanente. Daí o tripé, ensino, pesquisa, e extensão. Enfim, as Universidades surgiram para compreender a concepção de ciência como conhecimento metódico e esquematizado de sua produção (pesquisa) e transmissão (ensino – assimilação).
Quanto a história do Ensino Superior no Brasil, pode-se analisar sob diversos aspectos. A partir do texto Universidade, Ciência e Subdesenvolvimento. Simon refere-se aos Problemas de Educação e a questão da Universidade, dizendo que nos anos de 1920 eram feitas Conferências e debates com a finalidade de que através da educação o país se desenvolvesse. Nos anos trinta surgem as primeiras universidades. Em 1960 o tema da reforma universitária era obrigatório nos ambientes intelectuais e políticos, o que resultou num programa de treinamento para a melhoria da educação, mesmo sendo apenas uma peça nesse gigantesco e complexo quebra cabeça. Coloco, então, alguns pontos que me fazem questão. Como não ser conivente com certas posições de interesses políticos e financeiros? O crescimento desordenado da privatização de universidades gerou uma perda na qualidade do ensino e, consequentemente, um impasse. Que tipo de avaliação fazer com os alunos que chegam despreparados? Considera-se “n” variáveis com tolerância a certas limitações ou não? Digo limitações por se tratar de um país subdesenvolvido, onde o aluno precisa trabalhar. Ou a Universidade é para poucos? Com o aumento vertiginoso da população, haveria outra forma de não restringir o ensino de terceiro grau a uma minoria elitizada, considerando as condições brasileiras sem perda na qualidade de ensino? Se há um interesse em democratizar as Universidades e Socializar o Conhecimento que considerações devem ser relevadas para se atingir tais objetivos? A resposta para essas questões requer uma atenção especial não só de Categorias Dirigentes, mas também de cada um de nós que está envolvido no processo educativo e de formação profissional. A Universidade não pode reduzir-se a um lugar de mera transmissão do Saber. Deve sim, ir além. Despertar no aluno um compromisso cada vez maior com a sua formação profissional, com uma contribuição social e interesse pela pesquisa. Como eu trabalho com a Psicanálise, tomaria também esse “ir além“, sob outro enfoque. O de um outro Saber que não é o tecnológico, nem o científico, não é da ordem do conhecimento, mas que é o mais elementar do ser humano, saber de sua verdade. Saber de seu inconsciente, de seu desejo de seus medos, suas angústias, suas limitações, seu próprio funcionamento, isto, é saber de si mesmo, além do saber da ciência. Esta possibilidade deveria existir nos currículos escolares desde o início de educação de uma criança. Assim evitar-se-ia um tão grande número de pessoas que se formam, principalmente nas Universidades Federais e não exercem a profissão. Por ser de graça só querem um título. Já que o Brasil é um país que valoriza isso.
Outra questão, a Ciência busca “melhorar“ a condição de vida do homem, tirá-lo cada vez mais da natureza e colocá-lo na cultura, daí o paradoxo: até que ponto o progresso trazido pelo avanço científico é favorável ao homem? Há, pois, urgência de que em todos os níveis de ensino se inclua nos currículos a possibilidade do homem ampliar sua consciência, sua percepção, disso que nele trabalha e que resulta num funcionamento.
Concluindo, espero que a Universidade possa voltar a atender sua finalidade inicial que era uma adaptação do meio ao homem e do homem ao meio (homem x sociedade). Proporcionar-lhe uma melhor qualidade de vida. E não deixá-lo mais estressado, angustiado pela sobrevivência, correndo atrás da máquina mesmo que isso lhe custe a própria saúde física e mental. E que a entrada na Universidade não seja através da manifestação de um cursinho para o vestibular, mas que haja medidas de avaliação mais eficazes e humanas.
Enfim, que a Universidade possa cada vez mais ser o “Templo do Saber“.

postado por: MARIA OTILIA BENTO HOLZ 10:28 AM

Terça-feira, Maio 15, 2007

A criança, esse pequeno e indefeso ser, precisa de muito amor e compreensão para se tornar um adulto amável e compreensível. Os cuidados que ela requer não são somente em relação ao corpo, à higiene, alimentação, saúde, mas também e principalmente aqueles de ordem afetiva, moral e ética.
A modernidade alterou a ordem das coisas, trouxe mudanças de valores, um esvaziamento da ética e um descuido com a disciplina. Predomina uma relatividade em detrimento de parâmetros que possam orientar os pais e educadores na formação e desenvolvimento do infante.
O relativismo através do qual tudo é relativo, tudo pode, desorienta os mais bem intencionados em acertar. Acertar em ensinar, educar, amar questionar, enfim a discernir aquilo que é para o bem ou para o mal, já que se pode fazer qualquer coisa. Mas será que convém fazê-la ?
Entender que o ser humano é um ser da falta, que nada o completa é importante para que não se pense que suprir todas as necessidades da criança, ou atender a todos os pedidos dela, significa amá-la incondicionalmente.
A verdadeira formação da personalidade deve estar calcada em certos princípios de conhecimento sobre a criança e de respeito para com ela, mas não de tolerância para com o mal que ela possa fazer e se fazer. Como nos disse Freud a tolerância para com o mal não é nenhum corolário do conhecimento.
Sabe-se que a criança apresenta características que lhes são peculiares tais como: o egoísmo, a persistência, o egocentrismo, por isso quer ser o centro das atenções e se satisfazer a qualquer custo. Sair dessa posição infantil para uma compreensão de que as coisas nem sempre são como ela quer, requer uma grande dose de paciência, ensinamento e ¿exemplo¿. Diz o dito popular: ¿As palavras comovem, mas o exemplo arrasta¿.
Quando se fala em exemplo, se fala naquilo que os pais transmitem aos filhos, em termos do que realmente ¿desejam¿ ou esperam deles. É algo profundo e inconsciente que muitas vezes nem os pais o sabem. Por isso se põem como ¿vítimas¿ do que os filhos são, do que eles fazem e não como tendo parte nisso.
A psicologia revolucionou a maneira de ver a criança, não mais como um mero instrumento de obediência e submissão, mas como um ser que tem suas vontades próprias.
Esse é o ponto nevrálgico na educação, pois como atender ¿essas vontades¿ sem cair numa falta de limites onde os pais acabam sendo ¿escravos¿ dessas vontades.
Saber distinguir uma vontade que se pode atender sem prejudicar a criança não há mal nenhum, como por exemplo: a criança não quer vestir determinada roupa, ou comer determinada coisa e a mãe quer que o faça a força, isso acaba numa ¿guerra¿ de poder. Quem pode mais.
Nesse caso seria mais sensato que a criança pudesse escolher. Diferente de uma situação na qual ela corre risco. Não adianta dizer a uma criança muito pequena que não se pendure na janela do 10º andar, pois pode cair. O indicado é trancar a janela. Colocar um cadeado se preciso for.
Muitas vezes a incoerência dos pais ou mesmo dos educadores, de um modo geral, é um fator que gera conflito e indisciplina. O recomendável é que os pais sejam coerentes na educação. Se o pai dá uma ordem, a mãe deve respeitar e não desautorizá-lo e vice versa. Isso não significa que os pais tenham que ter o mesmo ponto de vista sobre determinada situação, mas a posição já tomada por um deve ser respeitada pelo outro. E até explicada: mamãe ( ou papai ) pensa diferente, mas como papai já falou vai ser assim. Sabe-se que a criança quando quer algo é muito insistente e não se cansa de pedir, chorar, gritar, bater o pé. Os pais para se verem ¿livres¿ dessa insistência acabam cedendo, depois de dizerem muitos nãos. Com isso a criança conclui que sua persistência em querer algo, apesar do não inicial, vencerá mais cedo ou mais tarde, já que esse não vira sim. Então faça, então pegue, então vá.
Não é fácil manter um não até o fim, por isso é importante que se pense bem antes de dizê-lo, se procede mesmo, se é capaz de sustentá-lo.
A conversa, a explicação das atitudes tomadas pelos pais situa a criança no porquê fazer determinadas coisas, pois ensiná-la a esperar, a postergar ou mesmo trocar aquilo que de imediato ela deseja é tarefa ardua e que exige muita paciência, persistência e firmeza. Não existe faculdade para educação de filho, mas existe sim o desejo dos pais e o desejo dos filhos. Como lidar com essas diferenças? Eis a questão. Importante é saber que esse ¿desejo¿ é o que verdadeiramente mobiliza certas atitudes e nem sempre coincide com a vontade. Por exemplo, se diz que quer algo mas se faz outra coisa. Há então que parar e perguntar o porquê dessa contradição. Pois nesse caso passa-se mensagens ambíguas para os filhos. Apostar na educação que se dá à criança é acreditar que futuramente ela possa buscar os seus próprios caminhos.
Outra vertente importante a ser considerada em relação a criança, está no lugar que ela ocupa na relação parental, pois sabe-se que o sintoma da criança corresponde à verdade do par familiar e também diz respeito à subjetividade da mãe, ou seja, a criança como objeto no fantasma da mãe. Que fantasia seria essa na qual a criança é envolvida?
postado por: MARIA OTILIA BENTO HOLZ 6:41 PM

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