sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O HOMEM PRIMITIVO

TEXTO DE MARCIO VEGAS DO BLOG O RECALQUE

A ideia de que existiu, há muito tempo atrás, um homem primitivo é um recurso muito utilizado para falar sobre a natureza e a origem do homem. Freud, no texto "Totem e Tabu", nos conta sobre um tempo mitológico, pré-civilizatório, em que os agrupamentos humanos eram dominados por um macho mais forte. A principal característica deste líder é o uso a força para manter o seu domínio, com o direito de matar qualquer um que o rivaliza-se. Outro aspecto importante, é o de ser o único a dispor de todas as fêmeas do grupo, independentemente dos laços de parentesco. As mulheres eram dele.


Tal figura terrível era, de tempos em tempos, substituída por um outro homem mais jovem e forte que conseguia vencê-lo em uma batalha mortal. Nos conta Freud que uma determinada vez, os homens se reuniram contra este pai ditador e decidiram matá-lo juntos; e para evitar que a tirania continuasse optaram por compartilhar o poder e as mulheres. Surge o primeiro pacto social a partir do assassinato do "pai da horda primitiva" e se instituiu a lei do incesto como modo de garantir fêmeas a todos os membros da tribo.

Festas e rituais foram criados para lembrar este dia e garantir o compromisso assumido entre os homens, revivendo o assassinato do pai. Com o tempo, o pai primitivo foi substituído por animais sagrados que por sua condição só podiam ser caçados e ingeridos em rituais; depois tornou-se um deus, em seguida vários deuses e novamente um Deus único.

Hoje, tempo em que valores são relativizados, cerimônias e ritos capitalizados, a lei e a hierarquia escrachados, perdemos recursos simbólicos para lidar com a agressividade. Resultado: mata-se porque era negro, porque era gay, porque era judeu, porque era mulçumano, porque era pobre, porque era rico, em geral, mata-se porque era diferente. Enfim, mata-se por falta de um importante anteparo psíquico para que o desejo de matar seja diferente do ato de matar. O homem primitivo é um mito vivo dentro de cada um de nós. Somos o homem primitivo

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