domingo, 14 de novembro de 2010

A ESCRITURA DOS DISCURSOS - TEXTO DE ELABORAÇÃO DE CARTEL - SUSANA QUILANTE

Formalizar a escritura dos discursos valendo-se da lógica e visando à estrutura que determina as enunciações elementares produzidas pelo ser falante, culminou na realização do Seminário O avesso da psicanálise (LACAN, 1969-1970/1992). Tal escritura foi articulada por Lacan para ilustrar quatro maneiras diferentes de se fazer laço social a partir da forma de apreensão dos diferentes efeitos do significante.

Neste seminário o que há é um jogo de letras, matemas dos discursos, no qual, cada discurso, movido por uma verdade inconsciente, produz saber e gozo. A escritura dos discursos, portanto, estabelece as relações do sujeito com o significante enquanto aparelho de gozo, indicando aí o deslocamento do campo da linguagem para o campo do gozo – o campo lacaniano - .
Lacan conceitua o discurso como uma estrutura necessária que põe em movimento relações fundamentais decorrentes do fato de estarmos imersos na linguagem. Irá conceber o discurso para além da fala, dirá um discurso “ sem palavras” e que é produtor de laço social. Ele recorre à lógica dado que esta esvazia a palavra de seu sentido, reduzindo-a a letras e apontando para o Real.
Estabelecendo uma escrita para cada um dos quatro discursos, faz uso de recursos lógicos, oriundos do campo da matemática, dado por um matema específico no que lança mão de quatro letras:
S1: o significante-mestre, o significante pelo qual os outros significantes são ordenados;
S2: o saber constituído enquanto cadeia significante;
a: o objeto a, mais-de-gozar, condensador de gozo e causa-do-desejo;
$: o sujeito dividido, barrado pelo significante;
E designa quatro lugares diferentes: o lugar do agente - semblante, o lugar do trabalho - Outro, o lugar da produção-perda e o lugar da verdade.
Os lugares
agente → Outro
↑ ↓
verdade produção/perda
Os lugares serão ocupados por quatro elementos distintos, que giram no sentido horário e, a cada quarto de giro fundam um novo modo discursivo, que se dará por dois campos distintos: o campo do Sujeito, onde estão o agente e a verdade, e o campo do Outro que corresponde ao Outro e a produção. Cabe ressaltar que o laço social não se dá entre dois sujeitos, mas sim, entre dois campos, importa desde que lugar que se ocupa no discurso.
No que pode ser lido da seguinte maneira: a dominante de cada laço é agente de uma verdade, que tem a intenção de fazer com que o Outro produza algo. Veremos assim, que existem várias maneiras de se portar na condição de agente – como S1, como S2, como $ ou como a – o que trará um efeito para toda a cadeia discursiva. Se temos como agente do discurso o S1 estamos no Discurso do Mestre; se o S2 é o agente estamos no Discurso Universitário; no Discurso da Histérica quem agencia é o $; no Discurso do Analista é ao objeto a que estamos referidos.
Lacan ainda faz uso das setas de implicação ou conexão ( ) para orientar o sentido da cadeia significante e do quarto de giro circular como operador da transformação de um discurso em outro, possibilitando assim a circulação das letras, em permutação circular, sem comutação, por quatro lugares. A cada um quarto de giro dos termos pelas posições, obtemos cada um dos quatro discursos, que se seguem:

Os Discursos
Discurso do Mestre: 
Discurso Histérico:
Discurso do Analista: Discurso Universitário
Em cada um dos quatro discursos propostos por Lacan ( do mestre, do histérico, do analista e do universitário,) no giro desses termos pelos diferentes lugares evidencia-se a impossibilidade ou a impotência. Ou seja, os agentes dos discursos são agentes de alguma coisa que é impossível, que aponta para o Real, bem como, aquilo que o discurso produz é impotente em mostrar a verdade deste mesmo discurso.
Portanto, pode-se depreender do que até aqui percorremos, de que a teoria lacaniana dos discursos, em especial por sua escrita em forma algébrica, ao destacar lugares (representados pelos quadrantes), funções (representados pelas letras), relações (representadas pelas setas de implicação e barras) e operadores estruturais (representado pelo quarto de giro que marca qualquer mudança de discurso) localiza o discurso prevalente em uso pelo sujeito que faz liame social. E que, o analista ao proceder a leitura do que está para além ou aquém das palavras, identifica a modalidade de gozo do analisante e o conduz a um outro cálculo, capaz de estabelecer uma nova economia política do gozo.
LACAN, Jacques. O Seminário – livro 17 – O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.
LEITE, Souza Peter Márcio., Travessia da Fantasia e Identificação ao sintoma:Lógica ou Política? Revista da Escola Brasileira de Psicanálise nº 26, abril/2000.


SUSANA QUILANTE

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