segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Artigos Jorge Forbes


 

O excitante amor ao diferente

20/01/2010 16h48



ALIÁS DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010
 
O excitante amor ao diferente

Estudante de direito e filha de professora universitária ajuda namorado, office-boy procurado pela Justiça, a assaltar a própria mãe.

Jorge Forbes*

A filha, ao mesmo tempo que se despede da mãe que está indo para a missa, pedindo que lhe trouxesse um doce quando voltar, fala ao telefone com o namorado, passando as coordenadas dos movimentos da mãe, para que o assalto planejado pelo bando desse namorado seja feito com a melhor precisão.
De uma só vez essa menina, de cara angelical e voz infantilizada, consegue romper dois dos principais tabus sociais: mãe e religião. Com mãe e Deus não se brinca, ditava a cartilha de qualquer meliante. Quando os "intocáveis" do laço social começam a desmoronar, com justa razão há um alerta geral, e essa pequena notícia veiculada nessa semana fica incomodando tal qual uma espinha, ao lado de tragédias bem mais retumbantes.
A menina é loira, estudante de direito, filha de professora universitária e de procurador de Justiça. O menino é moreno, office-boy, procurado pela Justiça. Silêncio: cuidado com pensamentos politicamente incorretos sobre essa união. Que ninguém venha falar que o menino é o lobo mau dessa doce chapeuzinho. Nem a mãe nem o pai da menina nada devem ter dito, dada a convivência íntima por dois anos, em sua casa. Tem muito pai e mãe que não falam mais nada para seus filhos, hoje em dia, amordaçados pela patrulha do politicamente correto. Se disserem alguma coisa, estarão discriminando. Mas não haveria uma forma de se falar, sem ser condenado por sua opinião? Vejamos.
Quando pessoas convivem por muito tempo, de duas, uma: ou elas têm muita coisa a repartir - interesses, valores culturais e éticos -, ou elas, sendo muito diferentes, tentam anular a diferença que as afasta, hipertrofiando os prazeres básicos sexuais e anulando qualquer outro sistema de laço social que as distancie. Logo, o desastre não é decorrente do fato de um ser supostamente melhor que o outro, mas de que, quanto mais distantes forem, mais primária, no sentido de menos elaborada, será a relação, necessariamente. O duro, a se acrescentar, é que o amor entre os diferentes é muitas vezes mais excitante do que a modorrice dos semelhantes. Será que os pais poderiam explicar isso a seus filhos e, especialmente, a si próprios? E mais, nem sempre o que é explicado tem que ser entendido. Pais não devem temer o mal-entendido; não há um bom pai, ou boa mãe - seja o que for que entendamos por isso - que já não tenha ouvido "eu não gosto de você" de um filho. Logo, pais, não recuem quando não concordarem, quando não aceitarem.
Nessa sociedade que perdeu os parâmetros há que se tomar cuidado em se pensar que finalmente somos todos iguais. Não, ao contrário, o que fica evidente é que somos todos diferentes, o que exige muito mais responsabilidade em qualquer relação. Se não for assim, estão abertas as portas à esculhambação generalizada: ao estupro de menores, ao furto de velhinhas, ao roubo de mães.
Não houve quem não associasse esse incidente carioca com o assassinato de um casal em São Paulo, com a participação da filha igualmente estudante de direito. (Nada de conclusões precipitadas sobre as estudantes de direito...) Será que a família vai desaparecer, como pensam alguns? Será que a família é uma relação como outra qualquer? Contrariando o bom-senso, que sempre pensa mal, a tendência da globalização é de sublinhar um novo valor da família, que não é desmentido pelo grande aumento dos divórcios, se entendermos a lógica. A família será o centro da responsabilidade ética - disse ética, e não moral - da sociedade. Família, grosso modo, é do que nos queixamos com mais veemência e paixão. É o grupo do qual mais se espera o reconhecimento que nunca chega e a compreensão impossível de sua dor. É na insatisfação da família que cada um lapida o que lhe falta, a saber, o seu desejo, pois não há desejo sem falta.
Luc Ferry, em livro recente, Famílias, Amo Vocês - Política e Vida Privada na Era da Globalização, defende a ideia de que depois da era na qual os humanos se guiavam pela transcendência divina, substituída pela transcendência da razão no Iluminismo, alcança-se, na globalização, a "transcendência da imanência". Vale uma explicação: ao contrário do que se pode imaginar, os tempos atuais de forte individualismo não caminham para o isolacionismo, mas para a rede social. E é na rede social, no confronto com o parceiro, que cada pessoa tem a ocasião de perceber o que Freud chamou de "o estranho", "Das Unheimlich". Quando nos encontramos com alguém, mais claro fica que alguma coisa de mim falta ao encontro, exatamente essa coisa estranha, essa transcendência da imanência, essa falha na minha intimidade, esse "êxtimo", como o nomeou Lacan. Pois bem, depois do divino e da razão, é essa intimidade estranha que servirá de guia ético para o novo tempo. Sua estranheza exigirá de cada um duas coisas: invenção e responsabilidade. Inventar um sentido para o que não tem, para o estranho, e se responsabilizar pela sua publicação no mundo.
Se ontem as famílias estavam a serviço da República, mandando seus filhos para a guerra, por exemplo, hoje, a República deverá servir às famílias. É o remédio contra o que nos repugna: uma filha ficar de campana para a mãe ser assaltada.
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* Psicanalista, preside o Instituto da Psicanálise Lacaniana - IPLA e dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano - USP

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Segredo da Longevidade


Hoje no almoço encontramos um senhor de 96 anos, mas que eu não daria mais do que 70 anos de idade.
Minha colega de trabalho questionou o segredo deste senhor se manter em tão boa forma, e deduziu que ele não fumava nem bebia.

No que se deu a resposta do velho:

- Não bebo nem fumo, mas o segredo mesmo é fazer sexo, todo dia uma vez, não mais do que isso senão vira excesso. Depois que parei de praticar é que comecei a envelhecer.

Forbes

 



 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O IMPREVISTO




O retorno do transcendente ou considerações despretenciosas sobre a atualidade (parte 1)




Inicialmente, quero deixar claro ao nobre leitor que se debruça sobre estas linhas que não pretendo realizar aqui uma análise sociológica profunda, o que de imediato retira do presente escrito qualquer possibilidade de ser reconhecido como um trabalho acadêmico. Tenho em vista apenas expor algumas conclusões a que cheguei por meio da observação não-sistemática, não-metodológica, parcialmente influenciada por minhas expectativas, afetos e demais elementos subjetivos conjugada a uma reflexão de cunho predominantemente racional – entendendo esse termo na acepção tradicional referida ao pensamento cartesiano. Trocando em miúdos, tudo o que será exposto aqui pertence ao domínio da doxa e não da episteme.
Diz-se por aí – principalmente por aqueles que pretendem se constituir em autoridade para dizê-lo – que atualmente as pessoas do lado de cá do globo terrestre vivenciam um momento histórico marcado pelo pluralismo sócio-cultural que, basicamente, quer dizer que respeitando minimamente as leis do Estado eu posso elaborar um padrão de vida inteiramente singular, contrário, inclusive, aos preceitos da religião oficial do mesmo Estado e que não serei preso, apedrejado ou morto por causa disso. Outra marca do atual momento segundo os que dizem é um certo estado de incerteza, falta de direcionamento e sentido para a existência resultante da perda do poder normatizador das grandes instituições – como a família, o Estado e a Igreja – e das grandes narrativas que justificavam a vida mediante uma referência a uma realidade transcendental.
Nesse contexto, de prevalência do singular face ao universal e do desbussolamento frente ao sentido, é de se esperar que o investimento psíquico (libidinal, para usar um termo de Freud) das pessoas se deslocasse da transcendência para a imanência da vida, isto é, que a maior preocupação das pessoas deixasse de ser o significado de suas vidas e a adequação de suas ações a um determinado “programa de gerenciamento existencial” e passasse para as peculiaridades e contingências de sua vida concreta. Isso não significa, no entanto, que as pessoas deixassem de buscar sentido para suas vidas. Afinal, a pergunta concernente ao motivo pelo qual existimos e devemos existir pode ser posta no rol daqueles traços que possivelmente caracterizam a chamada “condição humana”. O que mudou foi a fonte onde os indivíduos se dirigem para buscar sentido. Se antes essa fonte era constituída pelas religiões e metanarrativas, na atualidade seria a própria imanência da vida.
O maior exemplo dessa transformação foi a ascenção dos chamados “reality shows” nas televisões de todo o mundo. As pessoas ficam em frente de seus televisores para assistir a pessoas comuns ou artistas mostrando sua faceta de pessoas comuns agindo como pessoas comuns e mostrando conflitos e situações completamente comuns e familiares aos espectadores. Por que assistir à vida comum com conflitos comuns se nós já estamos DENTRO da vida comum com conflitos comuns? Ao meu ver, porque a televisão e os demais meios de comunicação faz com que mesmo o comum transcenda os limites que o conjugam a nossa vida familiar. Assim, aquilo que naturalmente está do lado da imanência da vida se converte em transcendente e aparece aos olhos do espectador como uma possível fonte de sentido para sua vida. É como se cada um que assiste aos “reality shows” dissesse: “Como não acredito mais nessas histórias fantásticas contadas pela religião e pela tradição, deixa eu ver como essas pessoas comuns como eu vivem suas vidas de forma que eu possa extrair o mínimo de parâmetro para a minha.”
Vê-se, portanto, que uma das formas pelas quais o transcendente retorna é justamente através da conversão da imanência em transcedência. No próximo post apresentarei outros casos ilustrativos de retorno do transcendente.

ESCRITO POR LUCAS NAPOLI  DO BLOG
LUCAS NAPOLI

terça-feira, 12 de janeiro de 2010


Freud é público

Desde o dia 1o de janeiro de 2010 os textos de Freud se tornaram de domínio público. Isso quer dizer que os direitos de reprodução de sua obra estão liberados a todos, o que nos leva a uma possibilidade de ampliação, principalmente em meios virtuais, do acesso a sua obra. E ainda, as 15000 cartas escritas por ele que estão na Biblioteca do Congresso de Washington estarão disponíveis a reprodução. Hoje, apenas 3000 destas cartas foram publicadas e mais de 5000 delas foram perdidas. Ainda nos resta um grande universo inexplorado de sua produção privada, que como sabemos, sempre fala sobre a sua clínica e o movimento psicanalítico.
A outra boa notícia, é a possibilidade de termos em português uma nova tradução. Uma diferente da atual publicada pela editora Imago, traduzida da bela versão inglesa realizada por James Strachey, (que está sendo revista atualmente) mas que em português deixou muito a desejar. Um texto vindo diretamente do alemão nos ajudaria muito e tenho certeza no interesse das editoras em fazer uma versão deste modo, visto que há um grande público interessado num texto mais fiel ao pensamento do autor vienense.
Já há um projeto em andamento, com três volumes publicados e os seus textos reunidos por temas e não cronologicamente. O trabalho tem sido tão minucioso que recorre às edições em vários outros idiomas, o que tem tomado muito tempo entre a publicação de um volume e outro.
Talvez seja possível também fazer uma tradução apenas com um estudo sobre o alemão da época freudiana, trabalhando para restituir o sentido proposto por Freud em seu texto; e não  mais o da IPA e nem o de Jacques Lacan. Acredito termos linguistas, historiadores e psicanalistas competentes para tal empreitada. Afinal, Freud foi um homem que dedicou seus últimos 40 anos a clínica que criou com a descoberta do Inconsciente. Seu conhecimento revolucionou o que sabíamos sobre o humano e permanece uma importante referência na cultura ocidental. Freud é público, vejamos bem o que faremos com isso!

POR MARCIO VEGAS DO BLOG
O RECALQUE