sexta-feira, 19 de novembro de 2010

GEORG GRODDECK

TRABALHO APRESENTADO POR LUCAS NÁPOLI NA UERJ.
O TEMA É INTERESSANTÍSSIMO, VALE A PENA OUVIR.
UM RESGATE HISTÓRICO DA OBRA DE GEORG GRODDECK, A PSICANÁLISE E A PSICOSSOMÁTICA. 
DO BLOG LUCAS NÁPOLI


Apresentações de Lucas Nápoli no V Seminário de Pesquisas do IMS-UERJ by lucasnapoli

http://soundcloud.com/lucasnapoli/apresentacoes-de-lucas-napoli-no-v-seminario-de-pesquisas-do-ims-uerj

O HOMEM PRIMITIVO

TEXTO DE MARCIO VEGAS DO BLOG O RECALQUE

A ideia de que existiu, há muito tempo atrás, um homem primitivo é um recurso muito utilizado para falar sobre a natureza e a origem do homem. Freud, no texto "Totem e Tabu", nos conta sobre um tempo mitológico, pré-civilizatório, em que os agrupamentos humanos eram dominados por um macho mais forte. A principal característica deste líder é o uso a força para manter o seu domínio, com o direito de matar qualquer um que o rivaliza-se. Outro aspecto importante, é o de ser o único a dispor de todas as fêmeas do grupo, independentemente dos laços de parentesco. As mulheres eram dele.


Tal figura terrível era, de tempos em tempos, substituída por um outro homem mais jovem e forte que conseguia vencê-lo em uma batalha mortal. Nos conta Freud que uma determinada vez, os homens se reuniram contra este pai ditador e decidiram matá-lo juntos; e para evitar que a tirania continuasse optaram por compartilhar o poder e as mulheres. Surge o primeiro pacto social a partir do assassinato do "pai da horda primitiva" e se instituiu a lei do incesto como modo de garantir fêmeas a todos os membros da tribo.

Festas e rituais foram criados para lembrar este dia e garantir o compromisso assumido entre os homens, revivendo o assassinato do pai. Com o tempo, o pai primitivo foi substituído por animais sagrados que por sua condição só podiam ser caçados e ingeridos em rituais; depois tornou-se um deus, em seguida vários deuses e novamente um Deus único.

Hoje, tempo em que valores são relativizados, cerimônias e ritos capitalizados, a lei e a hierarquia escrachados, perdemos recursos simbólicos para lidar com a agressividade. Resultado: mata-se porque era negro, porque era gay, porque era judeu, porque era mulçumano, porque era pobre, porque era rico, em geral, mata-se porque era diferente. Enfim, mata-se por falta de um importante anteparo psíquico para que o desejo de matar seja diferente do ato de matar. O homem primitivo é um mito vivo dentro de cada um de nós. Somos o homem primitivo

PARA QUE SERVE UM FIM?

BELÍSSIMA REFLEXÃO DO BLOG SIGNIFICANTES



“Difícil não é começar, difícil é recomeçar”. Li esta frase hoje, escrita em um quadro negro, em um dos lugares onde eu trabalho. Deixou-me pensativa. Ora, as coisas acabam. Tudo que tem um começo tem também um fim. Só o que tem fim é que pressupõe um recomeço. Aquilo que é infinito não pode ter um começo.


Diariamente vemos pessoas sofrendo com o final das coisas. Finais de relacionamentos, finais de histórias, finais de dia, finais. Espera-se ansiosamente pelo último capítulo da novela, pela última página do livro, pelo último dia de trabalho na empresa, pelo último dia de aula. Mas não pelo último beijo. Não pelo último brinde. Não pelo último afago. Não pela última palavra. Não pelo último dia de vida.

Todos sabemos que vamos morrer, basta estar vivo para isso, diz o clichê. Mas a vida se tornaria insuportável se não nos “esquecêssemos” disso. Justifico o uso das aspas. Não se esquece que vai morrer. Ninguém em são consciência coloca-se em uma situação de risco, porque esquece que pode morrer. Não nos jogamos da janela porque esquecemos que somos mortais.

Mas por outro lado, sim, esquecemos que podemos morrer. Acreditamos sermos imortais. É o tal do “isso não acontece comigo”. E não é só com a morte. O fulano faz sexo sem camisinha, duvidando de que pode mesmo pegar uma doença venérea. A fulana engravida, duvidando de que o seu corpo poderia gerar uma criança. O outro dirige depois de beber um bocado, pensando que vai ter sorte e chegar em casa sem nenhum arranhão. A outra cai no golpe do bilhete premiado achando que é esperta. E assim a vida segue.

A vida está sempre nos lembrando de que as coisas têm um final, de que não somos imortais, de que não somos super-heróis, de que não temos super poderes. E nós não cansamos de não aprender. Por quê?

Em Psicanálise, chama-se de recalque esse esquecimento que coloco entre aspas. A vida seria insuportável se tivéssemos consciência, o tempo todo, da morte. Quem suportaria falar cada palavra, pensando que poderia ser a última? Alguém seria forte o suficiente para dar o último beijo em cada beijo? Quão doído seria sair de casa para ir ao trabalho? Quão doído seria deixar os filhos na escola? Quem poderia dormir? É preciso recalcar a morte.

Por outro lado....suportaríamos a eternidade? E se vivêssemos para sempre? Quanto dura o “para sempre”? O eterno é simplesmente isso; eterno. Ausência de tempo, ausência de medo, ausência de riscos. Pode parecer confortável a uma primeira vista, mas certamente seria tão insuportável quanto se lembrar da morte o tempo todo. É como no filme “O diário de um vampiro”, em que o personagem principal diz que a eternidade é a sua maldição. Ou, ainda, Fred Mercury, que canta: “Who wants to live forever?”
Somos incapazes de valorizar as coisas das quais temos certeza. Não podemos amar as coisas das quais temos certeza. A certeza ofusca, deixa as coisas sem brilho. Seja a certeza de viver ou de morrer. Queixamos-nos da falta de garantias que a vida nos proporciona. Mas queixamos-nos de tantas coisas que amamos! Reclama-se da falta de liberdade que há nos relacionamentos, mas não se vive sem eles! (Cabe aí relacionamento com mãe, namorado, esposa, filho, etc) Queixamos-nos do outro, mas não podemos viver sozinhos.

Só podemos viver na condição de amar. Só podemos amar na condição de duvidar. Só podemos duvidar na condição de desejar. Desejar ser amado, desejar amar, desejar crescer, desejar viver, desejar realizar, desejar desejar.

“Difícil não é começar, difícil é recomeçar”, dizia a frase. O recomeço acontece depois de uma decepção. Depois que a vida nos frustra, nos lembra de que não há garantias, de que não estamos completamente seguros em lugar nenhum na vida. Seja um lugar de espaço físico (em casa, na rua, no shopping), ou em espaço como posição (namorada, marido, noiva). A vida vem, nos lembra da nossa finitude, e aí é preciso um recomeço. Frequentemente escuto pessoas dizerem que suas vidas melhoram depois disso. Que passaram a valorizar o seu tempo, a sua vida, depois de levar uma “rasteira” da vida; ou da morte. Há portadores de HIV que juram que a sua vida melhorou depois de saber do vírus. Dizem que passaram a viver, ao invés de apenas sobreviver.

Talvez porque sabendo da efemeridade das coisas, pode-se aproveitá-las. Sabendo da incerteza de cada momento, podemos vivê-los. Podemos passar de espectadores, a atores.

TV PRÁXIS






Link de video conferência de Antoni Vicens, do Instituto do Campo Freudiano de Barcelona.

http://www.icf-granada.net/videos3.htm#reTV

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DA MAIS VALIA AO OBJETO a COMO MAIS DE GOZAR

No bojo do movimento de maio de 1968 Lacan formaliza em seu ensino o conceito de objeto a como mais-de-gozar, dando uma guinada dos objetos a naturais, para os objetos de mercado, estabelecendo não como similar, mas como homólogo os termos mais-de-gozar (mehrlust), e o conceito que Marx faz de mais valia (mehrwert).


Lacan prossegue nesta aproximação, afirmando ainda que o sintoma não deveria ser buscado em Hipócrates, mas em Marx na sua formalização de mais valia.

É na passagem do período pré capitalista, onde o mercado se estabelece ainda pela troca de equivalentes, ao período de ascenso da burguesia em seu novo edifício econômico, que podemos identificar a criação do sintoma.

Lacan no Seminário XVI – De um Outro ao Outro, diz que o sujeito é aquilo que pode ser representado por um significante para outro significante e que isso seria calcado na descoberta de Marx de que o sujeito de valor de troca é representado pelo valor de uso. Tal troca de equivalentes, característico do período feudal, tem uma brecha, que cai com o advento do capitalismo, dando lugar a mais valia.

Na nova sociedade burguesa a condição de dominação e servidão típicas do feudalismo é recalcada. Marx trata da relação fetichista que o capitalista estabelece com as coisas, afirmando que as relações sociais entre indivíduos na nova sociedade capitalista disfarçam-se em relações sociais entre coisas. Daí o caráter fetichista do sintoma formalizado por Marx. O proletário, não mais na condição de escravo do senhor feudal, torna-se escravo de sua liberdade, ao vender livremente sua força de trabalho. Desprovido dos meios de produção, passa a ser mercadoria, e cujo uso produz mais valia, ou seja, o excedente que é apropriado pelo capitalista. A mais valia, como negação da troca por equivalentes, acarreta o sintoma, como um excesso de gozo.

Marx, em O Capital, estabelece as bases da teoria econômica de mercado, diferenciando-se de seus antecessores por identificar no valor da mercadoria, um excedente, sendo este da ordem de um excesso, é o lucro do capitalista.

Eis aí a mais valia nas palavras de Marx:

“Toda mais valia , qualquer que seja a forma na qual se cristalize, é por sua substância, materialização de trabalho não pago, que é igual ao trabalho excedente da venda de mão de obra do proletário.”



      Mais Valia                       trabalho excedente              trabalho não pago
__________________ = ___________________ = __________________

Valor da força de trabalho     trabalho necessário                  trabalho pago

Aí vemos a fómula de Marx da mais valia,
Na ágebra lacaniana se increverá da seguinte forma.


          DM






O S1, o senhor, age buscando um saber no campo do Outro. Saber que é do escravo, pois o senhor nada sabe. O saber fazer é do escravo. Nesta operação, do significante mestre com o significante do saber, há um resto, da ordem o excesso, do objeto a como mais-de-gozar.

Na formulação que lacan estabelece dos discursos, o objeto a, não se trata de um gozo “normal”, porque o gozo como está inscrito no laço social, só emerge de um excedente, sendo constitutivamente um excesso. O excesso necessário ao capitalista ao extrair o saber do proletário, que é a mais valia, excedente de trabalho.

Jacques-Alain Miller lembra que o objeto a é prioritário no campo da realização subjetiva, portanto na clinica e no laço social. Seria pois, todos os objetos a, inscritos nos quatro lugares dos discursos, mais-de-gozar?

A estrutura dos discursos estabelece o objeto a como mais-de-gozar. No discurso do analista, o objeto a se mostra como opaco, com efeito de rechaço, de recusa, mas também como objeto mais-de-gozar no interior da fantasia do analisante. No discurso do analista o que trabalha é o sujeito, ficando o saber suspenso.

         DA


No discurso da histérica o sujeito busca-se um significante que dê conta de seu gozo, não podendo dar conta do saber, evoca o mestre para dar conta do saber, enquanto deixa abaixo de si, o objeto a, como diz JAM, “como efeito de corte da linguagem no corpo”. É elemento causa de desejo. A histeria demonstra os objetos a naturais, mas quando estes mesmos objeto a naturais são postos no mercado pelo sintoma histérico, tais como as tatuagens, piercings, cirurgias plásticas, medicações, temos o objeto a como mais de gozar. Lembremos que é homólogo o mehrwert e o mehrlust, portanto todo objeto do mercado é objeto como mais-de-gozar.

         DH







No discurso Universitário, o agente é o saber pleno, tendo o professor como representante deste saber, que se liga em termos ao discurso da ciência, coloca o aluno, chamado por Lacan de astudado, que já caracteriza sua posição como objeto a como mais-de-gozar, por “não ser mais que unidade de valor”. É o que se vê hoje, na mercantilização do ensino, onde o excesso (excesso de alunos, excesso de pagantes, excesso de universidades, excesso que busca sempre a lógica de mercado) que garante a mais valia é também a forma de gozo fetichista

          DU






O mais-de-gozar, em sua relação de igualdade com a Mais Valia de Marx, permite isolar no laço social a função do objeto a .

LACAN, Jacques. O Seminário – livro 17 – O avesso da psicanálise.
LACAN, Jacques. O Seminário – livro 16 – de um Outro ao outro.
Zizek, Slavoj. Um Mapa da Ideologia – Cap. Como Marx inventou o Sintoma.
Forbes, Jorge – Os eixos da subverção analítica: Os quatro discursos – texto disponível no site do Instituto de Psicanálise Lacaniana – IPLA
Scilicet – Os objetos a na experiência psicanalítica – AMP
Marx, Carl. O capital – Livro I.
Indart JC – Conferência em Curitiba.

Rafael Mariante Sallet

domingo, 14 de novembro de 2010

A ESCRITURA DOS DISCURSOS - TEXTO DE ELABORAÇÃO DE CARTEL - SUSANA QUILANTE

Formalizar a escritura dos discursos valendo-se da lógica e visando à estrutura que determina as enunciações elementares produzidas pelo ser falante, culminou na realização do Seminário O avesso da psicanálise (LACAN, 1969-1970/1992). Tal escritura foi articulada por Lacan para ilustrar quatro maneiras diferentes de se fazer laço social a partir da forma de apreensão dos diferentes efeitos do significante.

Neste seminário o que há é um jogo de letras, matemas dos discursos, no qual, cada discurso, movido por uma verdade inconsciente, produz saber e gozo. A escritura dos discursos, portanto, estabelece as relações do sujeito com o significante enquanto aparelho de gozo, indicando aí o deslocamento do campo da linguagem para o campo do gozo – o campo lacaniano - .
Lacan conceitua o discurso como uma estrutura necessária que põe em movimento relações fundamentais decorrentes do fato de estarmos imersos na linguagem. Irá conceber o discurso para além da fala, dirá um discurso “ sem palavras” e que é produtor de laço social. Ele recorre à lógica dado que esta esvazia a palavra de seu sentido, reduzindo-a a letras e apontando para o Real.
Estabelecendo uma escrita para cada um dos quatro discursos, faz uso de recursos lógicos, oriundos do campo da matemática, dado por um matema específico no que lança mão de quatro letras:
S1: o significante-mestre, o significante pelo qual os outros significantes são ordenados;
S2: o saber constituído enquanto cadeia significante;
a: o objeto a, mais-de-gozar, condensador de gozo e causa-do-desejo;
$: o sujeito dividido, barrado pelo significante;
E designa quatro lugares diferentes: o lugar do agente - semblante, o lugar do trabalho - Outro, o lugar da produção-perda e o lugar da verdade.
Os lugares
agente → Outro
↑ ↓
verdade produção/perda
Os lugares serão ocupados por quatro elementos distintos, que giram no sentido horário e, a cada quarto de giro fundam um novo modo discursivo, que se dará por dois campos distintos: o campo do Sujeito, onde estão o agente e a verdade, e o campo do Outro que corresponde ao Outro e a produção. Cabe ressaltar que o laço social não se dá entre dois sujeitos, mas sim, entre dois campos, importa desde que lugar que se ocupa no discurso.
No que pode ser lido da seguinte maneira: a dominante de cada laço é agente de uma verdade, que tem a intenção de fazer com que o Outro produza algo. Veremos assim, que existem várias maneiras de se portar na condição de agente – como S1, como S2, como $ ou como a – o que trará um efeito para toda a cadeia discursiva. Se temos como agente do discurso o S1 estamos no Discurso do Mestre; se o S2 é o agente estamos no Discurso Universitário; no Discurso da Histérica quem agencia é o $; no Discurso do Analista é ao objeto a que estamos referidos.
Lacan ainda faz uso das setas de implicação ou conexão ( ) para orientar o sentido da cadeia significante e do quarto de giro circular como operador da transformação de um discurso em outro, possibilitando assim a circulação das letras, em permutação circular, sem comutação, por quatro lugares. A cada um quarto de giro dos termos pelas posições, obtemos cada um dos quatro discursos, que se seguem:

Os Discursos
Discurso do Mestre: 
Discurso Histérico:
Discurso do Analista: Discurso Universitário
Em cada um dos quatro discursos propostos por Lacan ( do mestre, do histérico, do analista e do universitário,) no giro desses termos pelos diferentes lugares evidencia-se a impossibilidade ou a impotência. Ou seja, os agentes dos discursos são agentes de alguma coisa que é impossível, que aponta para o Real, bem como, aquilo que o discurso produz é impotente em mostrar a verdade deste mesmo discurso.
Portanto, pode-se depreender do que até aqui percorremos, de que a teoria lacaniana dos discursos, em especial por sua escrita em forma algébrica, ao destacar lugares (representados pelos quadrantes), funções (representados pelas letras), relações (representadas pelas setas de implicação e barras) e operadores estruturais (representado pelo quarto de giro que marca qualquer mudança de discurso) localiza o discurso prevalente em uso pelo sujeito que faz liame social. E que, o analista ao proceder a leitura do que está para além ou aquém das palavras, identifica a modalidade de gozo do analisante e o conduz a um outro cálculo, capaz de estabelecer uma nova economia política do gozo.
LACAN, Jacques. O Seminário – livro 17 – O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992.
LEITE, Souza Peter Márcio., Travessia da Fantasia e Identificação ao sintoma:Lógica ou Política? Revista da Escola Brasileira de Psicanálise nº 26, abril/2000.


SUSANA QUILANTE

Nº 1 ANO 1 ALEPH REVISTA DA DELEGAÇÃO PARANÁ - ESCOLA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE

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